Controle do milionário fundo partidário do PSL e das indicações de candidatos para as eleições municipais em 2010 também estão no centro da briga entre Bolsonaro e o presidente do PSL
RIO — Há apenas dez meses na Presidência, o presidente Jair Bolsonaro já pensa na possibilidade de sair do PSL . O racha entre Bolsonaro e o presidente da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PE), veio à tona na última semana, mas os desentendimentos entre os dois vêm crescendo desde o início do ano, quando foram divulgadas as primeiras denúncias sobre esquema de candidaturas laranjas no PSL. A saída do partido pode ser uma estratégia do presidente de se afastar das denúncias. O controle do milionário fundo partidário do PSL e das indicações de candidatos para as eleições municipais em 2010 também estão no centro da crise entre Bolsonaro e Bivar.
Para sair do partido, o presidente ainda busca uma garantia jurídica para que os deputados que o acompanhem não percam seus mandatos e que a Justiça possa também congelar os recursos partidários do PSL. Na esteira de Bolsonaro, o partido conquistou 11,6 milhões de votos, um crescimento de 1.341%, que engordou o cofre do PSL dos nanicos R$ 6,2 milhões do fundo partidário em 2018 para o milionário R$ 103 milhões em 2019, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.
Candidaturas laranjas
Fevereiro de 2019
A "Folha de S.Paulo" revelou que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, patrocinou na campanha eleitoral de 2018 um esquema de candidaturas laranjas em Minas Gerais, onde foi eleito deputado federal. Ele era o presidente do PSL no estado. Na época, Gustavo Bebbianno, ex-braço-direito de Bolsonaro, era o presidente do PSL.
Em seguida, o jornal mostrou que uma gráfica ligada a um dirigente do partido no interior de Pernambuco recebeu, da legenda, R$ 1,2 milhão durante a campanha eleitoral para prestar seviço a sete candidatos a deputado. O maior gasto, R$ 848 mil, foi feito pelo atual presidente da sigla, Luciano Bivar. Os outros seis que receberam não se elegeram.
Bebianno x Bolsonaro
Fevereiro de 2019
Após as denúncias, o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência de Bolsonaro enfrentou um processo de desgaste intensificado pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, que foi às redes sociais dizer que Bebianno mentiu ao falar ao GLOBO que havia conversado três vezes por WhatsApp com o presidente para negar que ele estava protagonizando a crise.
Horas após a declaração do filho, Jair Bolsonaro afirmou, em entrevista à TV Record, que se Gustavo Bebianno estivesse envolvido no uso de candidatos do PSL como laranjas na campanha eleitoral de 2018, ele deveria sair do governo e "voltar às origens" . O presidente também reafirmou que Bebianno mentiu sobre a existência de um diálogo entre os dois.
Após um processo de "fritura" de Bebiano, a demissão do ministro foi confirmada no dia 18 de fevereiro pelo porta-voz da Presidência da República , Otávio do Rêgo Barros. Perguntado sobre a razão da demissão, ele explicou que foi uma questão de "foro íntimo" do presidente.
Novas denúncias
Março de 2019
No mês seguinte, uma candidata do PSL em Minas Gerais envolveu diretamente o ministro Marcelo Álvaro Antônio. Zuleide Oliveira disse à "Folha de S.Paulo" que Marcelo a chamou pessoalmente para ser uma candidata laranja em 2018. Ela teria que devolver parte do dinheiro público do fundo eleitoral ao partido. A denúncia começou a ser investigada no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais .
Em seguida, outra candidata do PSL ao cargo de deputada federal por MG afirmou que um assessor de Marcelo Álvaro Antonio teria condicionado um repasse de R$ 100 mil do fundo partidário da legenda para a campanha dela à devolução de R$ 90 mil ao partido. Em entrevista ao GLOBO, Adriana Moreira Borges contou que a garantia de retorno dos valores deveria ser dada por meio de nove cheques com valores em branco , assinados por ela.
MP denuncia ministro
4 de outubro
O Ministério Público denunciou o ministro do Turismo. Ele é acusado de associação criminosa, apropriação indébita e falsidade ideológica eleitoral. Outras dez pessoas foram denunciadas, entre elas o assessor especial do ministério, Mateus Von Rondon Martins, que foi preso em junho. Na ocasião, outros dois assessores haviam sido presos. Após a denúncia, Bolsonaro decidiu "aguardar o desenrolar do processo" e mantê-lo no cargo .
'Ele está queimado'
8 de outubro
A um apoiador na entrada do Palácio da Alvorada, o presidente disse para esquecer o PSL e que o presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), está "queimado para caramba". Em resposta, Bivar disse que Bolsonaro já estava afastado da sigla: "A fala dele foi terminal, ele já está afastado. Não disse para esquecer o partido? Está esquecido".
O partido chegou a convocar uma reunião emergencial na Câmara com deputados e senadores para avaliar os desgastes após a declaração do presidente Bolsonaro. Aliados do presidente também começaram a se articular para a criação de um novo partido.
Punição a deputados
10 de outubro
O PSL puniu quatro deputados após o começo da crise entre Jair Bolsonaro e Luciano Bivar , presidente do partido. Estavam na mira os 19 parlamentares que assinaram uma carta declarando solidariedade ao presidente da República. Carlos Jordy (RJ), Filipe Barros (PR), Alê Silva (MG) e Aline Sleutjes (PR) perderam suas titularidades em comissões e cargos nas lideranças do partido.
Auditoria nas contas do PSL
11 de outubro
Em seguida, Bolsonaro, junto de um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro, e mais 20 deputados pediram a Luciano Bivar que abra todas as contas partidárias dos últimos cinco anos. No documento dirigido ao presidente do PSL, os advogados Karina Kufa e Marcello Dias de Paula, que assinam o texto, afirmam que submeterão as contas do PSL a uma auditoria “externa” e “independente”. Em entrevista ao GLOBO, dias depois, Karina disse que Bolsonaro conversa com cinco partidos como opção para sair do PSL.
Bivar é alvo da PF
15 de outubro
Luciano Bivar foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) que investiga o lançamento de candidaturas-paranja pelo partido no estado de Pernambuco. Os agentes vasculharam endereços ligados a ele, entre eles a sua residência e uma gráfica usada na campanha de 2018. A operação foi deflagrada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE).
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