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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Café pode passar de vilão a mocinho, apontam estudos

Estudos mostram possíveis benefícios da bebida



















Por muito tempo, o café encenava melhor o papel de vilão: provocava agitação, dependência e fazia mal para o estômago. Definitivamente, não era indicado para a saúde do coração. Hoje, a probabilidade é que ele passe de bandido a mocinho. Reduzir o colesterol, evitar doenças coronarianas, proporcionar efeitos antidepressivos e até mesmo ajudar a emagrecer são alguns dos pontos a favor que a bebida vem ganhando e que se tornaram objeto de pesquisas conduzidas em diversos países.
A aposta nos aspectos saudáveis é tanta que o Brasil vai ganhar, em breve, um centro de estudos que concentrará esforços na investigação dos prováveis efeitos benéficos do café. A Fundação Zerbini, do Hospital das Clínicas de São Paulo, a partir de um protocolo de intenções assinado com a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), prepara-se para criar a Unidade de Pesquisa Café-Coração do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).  




Coração

Chegar a conclusões efetivas sobre a capacidade de o café proteger o coração parece ser o principal desafio dos pesquisadores atualmente. Para Luiz Antonio Machado César, coordenador da Unidade Café-Coração do Incor, "hoje, não há motivos para dizer [ao paciente] que pare de tomar café, e há motivos para dizer que [o consumo] pode fazer bem".
O ex-presidente da Federação Mundial de Cardiologia, Mario Maranhão, vê com entusiasmo as pesquisas sobre as potencialidades do café. Ele aposta "na perspectiva de o café indiretamente reduzir a chance de infarto do miocárdio", baseado em pesquisas que mostram um efeito antidepressivo na bebida. "A depressão aumenta em até quatro vezes a possibilidade de infarto e, ao cabo de um ano, aumenta em cinco vezes a chance de um novo episódio. Ao combatê-la, melhoramos as condições de saúde cardiovascular".

Depressão

O efeito antidepressivo do café foi apontado em uma grande pesquisa populacional realizada nos EUA, conhecida como "pesquisa das enfermeiras", por ser essa a ocupação da população observada. Os dados mostraram uma menor incidência de depressão profunda e de suicídio entre aquelas que eram consumidoras habituais da bebida.
No Brasil, uma pesquisa realizada entre 1987 e 1998, envolvendo mais de 100 mil estudantes de dez a 18 anos, também verificou uma relação inversa entre o consumo de café e a depressão. Coordenada por Darcy Lima, da UFRJ, e com o apoio do Instituto de Estudos do Café da Universidade Vanderbilt, de Nashville (EUA), os dados preliminares da pesquisa também mostram uma menor incidência de alcoolismo entre as crianças e os adolescentes que tomam aproximadamente três xícaras de café por dia.

Porém, as conclusões desses trabalhos ainda não são consenso entre os médicos. Ricardo Moreno, presidente do departamento de psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, não recomenda café nos casos de depressão.

A polêmica da cafeína

"A cafeína é uma substância estimulante do sistema nervoso central. Nos quadros de depressão, todas as substâncias estimulantes são contra-indicadas porque alteram o humor das pessoas", explica Moreno. Segundo ele, algumas pessoas desfrutam de uma sensação de bem-estar logo após ingerir uma xícara de café, mas isso não deve ser confundido com um efeito antidepressivo. "No longo e no médio prazos, inclusive, o consumo contínuo pode acentuar o estado depressivo na ausência da substância", completa.
Para Darcy Lima, a questão não se resume à cafeína. Ele acredita que, embora a substância também possa ter relação com o efeito antidepressivo e inibidor do alcoolismo, os principais agentes são os antagonistas de opiáceos derivados dos ácidos clorogênicos presentes no café.
Mas a crença comum é que café é mesmo sinônimo de cafeína --substância psicoestimulante que pode causar, além de dependência, sintomas como irritabilidade, nervosismo e insônia.
Sim, pode, mas os defensores do café batem em duas teclas: a cafeína corresponde a apenas 1% a 2,5% da composição do café; e esses efeitos indesejáveis só ocorrem quando o consumo é excessivo. Atualmente, a quantidade recomendada é de uma a duas xícaras diárias para quem tem menos que dez anos e mais que 60 anos e de três a quatro xícaras para a faixa etária restante, segundo Lima.

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