Sobrevivente e testemunhas relatam drama nos momentos finais do voo da Chapecoense
Relatos de uma sobrevivente e de duas testemunhas da queda do avião da Chapecoense que caiu na Colômbia ajudam a entender o drama dos momentos finais do voo trágico. Um piloto da empresa Avianca, que voava próximo, escutou a conversa entre a tripulação da aeronave acidentada e a torre de controle do aeroporto de Medellín, onde deveria ter sido feita a aterrissagem. Ele contou que a tripulação do voo da LaMia pediu prioridade de pouso no Aeroporto Río Negro porque estaria com problemas de combustível.
De acordo com o jornal “El Tiempo”, o capitão do voo da LaMia, Alejandro Quiroga Murakami, pediu repentinamente e aos gritos que o deixassem aterrisar no aeroporto porque tinha problemas de combustível.
– Solicitamos prioridade para proceder, solicitamos prioridade para proceder ao localizador, temos problemas de combustível – teria dito o piloto da LaMia, segundo relato do piloto da Avianca, cujo nome não foi divulgado.
ÁUDIO: Ouça o relato do piloto da Avianca
A controladora do aeroporto teria negado a permissão por conta de outro voo da empresa Vivaolômbia. Foi quando o comandante do voo da Chapecoense decretou emergência. O comandante da Avianca relatou ainda que a controladora pediu que o avião da Chapecoense pousasse na pista 1. Enquanto isso, a tripulação do voo da Chapecoense confirmou a pane elétrica e decretou situação de emergência.
– Agora temos uma falha elétrica, temos uma total falha elétrica.
A comissária de bordo Ximena Suárez, uma das seis pessoas que sobreviveram à queda do voo da LaMia, contou que as luzes do avião se apagaram repentinamente no trajeto até Medellín. O relato foi feito pelo governador de Antioquia, Luis Pérez, e, segundo ele, esse é o único depoimento até o momento sobre o acidente.
– O pouco que ela falou foi que as luzes começaram a se apagar repentinamente e que 40 ou 50 segundos depois sentiu a pancada. Ela se lembra até aí – disse Pérez, em entrevista a veículos de imprensa colombianos.
Uma brasileira que estava no voo da VivaColômbia, aquele que teve prioridade de pouso em relação ao avião da LaMia, contou que a aeronave onde estava também tinha problema com combustível. Em sua página no “Facebook”, a brasileira Maysa Brito, moradora de Uberlândia, disse que viajava de Bogotá para San Andrés, ambas na Colômbia, quando o comandante do voo relatou relatou vazamento de gasolina.
Veja o que ela escreveu:
“Sabe o avião que caiu? Quase foi o meu!!! (…) Nosso voo atrasou mas fomos mesmo assim, no meio do trajeto o piloto explica que estávamos com problemas técnicos, e pasmem também por gasolina. Ele alegou que estava vazando e por isso iríamos realizar uma parada emergencial no aeroporto José Maria Cordova, o mesmo aeroporto em que o time deveria pousar. Na hora ficamos com medo mas não tínhamos ideia da gravidade, pousamos e ficamos uns 45 minutos na aeronave. (…) No meio de toda confusão ficamos sabendo da queda do outro avião e veio o triste relato da policia do aeroporto. A policial informou que infelizmente eles não conseguiram pousar pois já estávamos na prioridade de emergência, ou seja, já estávamos pousando e então eles tinham que esperar o meu avião chegar ao solo… Nessa espera, eles perderam o contato com a torre e o avião caiu, ali, metros de onde estava… E se eles tivessem pousado primeiro? Talvez seria o nosso avião rodando no ar também sem gasolina! Foi um caos, ninguém sabe ao certo o que aconteceu, todo mundo com medo de pegar outro avião, criança chorando, pessoas gritando… Regressamos a Bogotá, pegamos um hotel e agora estamos no aeroporto novamente para enfim chegarmos a San Andrés! Estou perplexa e extremamente agradecida, só nos resta aproveitarmos o resto dos nos dias nesse país maravilhoso, orar por essa triste fatalidade e pelas famílias, os meus mais profundos sentimentos!! Aqui não se fala em outra coisa e já estão tentando entender porque um avião pousou e outro não”.
As causas do acidente ainda estão sendo investigadas, e as duas caixas pretas, encontradas na terça-feira, poderão ser esclarecedoras. Uma das possibilidade é de que tenha ocorrido falta de combustível. Especialistas, porém, não descartam a possibilidade de falha elétrica. Os investigadores vão verificar se a LaMia cumpriu todos os protocolos de segurança internacionais que obrigam que todos os voos de linha ou privados tenham combustível de reserva para garantir as manobras de segurança necessárias. Ou seja, a aeronave tinha que ter combustível para ir para o aeroporto mais próximo ou sobrevoar o aeroporto por pelo menos 30 minutos.
Outro sobrevivente da tragedia, o boliviano Erwin Tumiri, declarou ao jornal “La Razón”, da Bolívia, que escapou da morte por ter seguido todos os protocolos de segurança. Ele permaneceu em posição fetal com uma mala entre as pernas, o que teria ajudado a amenizar o impacto da queda.
– Sobrevivi porque segui todos os protocolos de segurança. Com a situação de pânico, muitos se levantaram dos assentos e começaram a gritar. Coloquei umas malas entre as pernas e fiquei na posição fetal, recomendada para acidentes – afirmou o comissário de bordo.
O voo da Chapecoense seguia de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, para Medellín, onde o time a primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. No acidente, 71 pessoas morreram, entre eles 19 jogadores da Chapecoense e 21 jornalistas.
A partida foi adiada, mas o time colombiano solicitou à Conmebol que o título seja dado para a equipe catarinense.
O Globo
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