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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
RETROSPECTIVA 2018!!! DAS MAIS ACESSADAS: Crônicas Policiais: "A MORTE DE VALDETÁRIO CARNEIRO"
Na noite de 10 dezembro de 2003, no Sítio Pau de Leite, Município de Lucrécia/RN, morreu em confronto com a polícia o assaltante de bancos Valdetário Benevides Carneiro, renomado líder de quadrilha e considerado um dos protagonistas do surgimento do chamado "Novo Cangaço".
Natural de Caraúbas/RN, a trajetória de Valdetário Carneiro é repleta de episódios que ficaram de forma controversa no imaginário popular, a começar de sua iniciação como fora-da-lei, supostamente ocasionada por uma prisão por crime que não teria cometido. No papel e com direito ao devido processo legal, consta que Valdetário, mecânico e dono de oficina, recebeu condenação por envolvimento com o roubo de um veículo Ford Pampa, acontecido na Paraíba, tendo sido ele reconhecido formalmente pela vítima e tudo o mais. Ainda hoje, no Alto Oeste Potiguar, as duas versões são faladas. O próprio "Val" afirmava que entrara na vida do crime em decorrência dessa prisão (1991), por ele considerada injusta e em virtude da qual se revoltou. A Polícia sempre afirmou o contrário, no que foi referendada pelo Judiciário, após os devidos trâmites.
Seis anos depois, após sair do regime fechado (cumprido na Penitenciária de Campina Grande/PB) e voltar a Caraúbas, o Carneiro é acusado, via boatos, de praticar assalto contra um comerciante de Mossoró. O mesmo nega participação e obriga os ladrões a devolverem o dinheiro à vítima. Mas também decide matar quem lhe acusou de ter roubado o carro na Paraíba, motivo de sua primeira prisão. Com auxílio de um primo, "Valdetáro" vai à Paraíba e mata dois: o dono da Ford Pampa e um outro que estava na hora e lugar errados.
A partir daí, inicia uma seqüência de crimes que lhe virá a render o título de "bandido mais perigoso do Nordeste" e comparações com Virgolino Ferreira, o Lampião. Entre 1997 e 2003, o bando formado por Valdetário Carneiro protagonizou várias ações criminosas espetaculares em duas linhas diferentes: a guerra contra a família Simião Pereira (capítulo à parte dessa história dramática) e assaltos a banco cada vez mais ousados.
Dentre esses episódios marcantes estão o assassinato do médico João Pereira e de uma enfermeira, no centro de Caraúbas, a tiros de fuzil AR-15 (23/12/1999); O resgate cinematográfico de Valdetário (que havia sido preso novamente) da Penitenciária de Alcaçuz pela sua quadrilha (05/11/2000), quando foi libertado junto com mais 27 presos (na ação, ficou paralítico um soldado PM, em decorrência de ferimento à bala); A emboscada na RN 117, nas alturas de Lagoa do Pau (10 km de Mossoró) ao então Prefeito de Caraúbas, Agnaldo Pereira, onde morreram também a esposa do mesmo, dois praças da PM e um funcionário do prefeito (07/11/2001) com mais de cem tiros de 5.56 e ponto 30, pistolas .40 e .380, além de escopeta calibre .12; O assalto a bancos na cidade de Macau/RN (31/05/2002), quando a cidade foi dominada e suas três agências bancárias (Banco do Brasil, Banco do Nordeste e Caixa Econômica Federal) foram assaltadas simultaneamente (na ação, mataram o delegado da cidade e feriram um agente de polícia civil). Tal seqüência de crimes bárbaros chocou a opinião pública e fez a fama da quadrilha.
Agências bancárias em cidades como Caraúbas, Apodi, Campo Grande, Umarizal, entre outras (num total extraoficial de mais de cem, inclusive em outros Estados), foram alvos do Bando. Em certo momento, Valdetário Carneiro alcançou foro de problema nacional ao ser tema do programa-denúncia "Linha Direta" da Rede Globo de Televisão. Nessa altura, a caçada a Valdetário já era uma questão de honra para as Polícias Civil, Militar e Federal... Não havia como ele durar muito.
A 10 de dezembro de 2003, denúncia anônima levou a polícia ao esconderijo de Valdetário Carneiro no sítio Pau de Leite, ermo da caatinga na zona rural de Lucrécia. O Delegado Regional de Patu, Ridagno Pequeno, com pouco mais de 20 homens reunidos às pressas, cercou a casa, durante a madrugada. Já perto de amanhecer, o latido de um cachorro alertou Valdetário que gritou: "Quem está aí?" - E principiou abrir a porta dos fundos, ao que respostaram:
- É a Polícia! - E começou o tiroteio...
Em certa altura, Valdetário Carneiro gritou, de dentro da casa: "Eu vou sair!"
Nisso, os tiros pausaram. Enquanto todos esperavam que a porta da casa se abrisse, com rendição do renegado, "Valdetáro" pula a janela, atirando de AR-15 no fogo automático. Aí, o tiroteio recomeça. Todavia o Carneiro, cercado e atirando às cegas, é um alvo fácil e tomba crivado por mais de uma dezena de tiros.
Dentro da casa está sua esposa e um filho pequeno, que provavelmente ele tentou proteger, saindo para o tiroteio em campo aberto, tentando fuga desesperada. Se queria viver, melhor negócio era ter se rendido.
Até esse momento, os Policiais ainda não tinham certeza da identidade do homem que jazia ao solo, mas depois confirmaram: aos 44 anos, Valdetário Carneiro, o inimigo número um das Forças de Segurança Pública, estava morto.
Túmulo de Valdetário Benevides, em Caraúbas, cidade onde nasceu (Foto: Anderson Barbosa/G1)
No dia 11 de dezembro, Valdetário Benevides Carneiro foi sepultado no Cemitério Municipal de Caraúbas, em meio a grande comoção. Muita gente vestia camisas com sua foto e, sem dúvida, parte daquele povo o celebrava como um herói. Decerto, também houve muita gente que comemorou, naquele mesmo dia...
Essa é uma história que ainda está viva no Alto Oeste Potiguar, para o bem ou para o mal.
Por: Erick Guerra
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