Com um samba-enredo requentado de 1994, a Gaviões da Fiel trouxe em sua comissão de frente a encenação do diabo arrastando e surrando Jesus, que aparece indefeso e fraco.
Em entrevista à Globo, o coreógrafo Edgar Júnior afirmou que a escola alcançou seu objetivo “que era mexer com a polêmica Jesus e o diabo e a fé de cada um” e acrescentou que o intuito era “chocar”.
Devido à repercussão negativa, a escola chegou a alegar que a figura retratada não era Jesus, e sim, Santo Antão, mas obviamente não colou. Diante disso, o jeito foi tentar se esconder atrás da arte e suas licenças.
Porém, ainda que surjam desculpas e alegações, o artigo 208 do Código Penal (Decreto Lei 2848/40) é bastante claro.
“Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objetoVilipêndio é o “ato de tornar (alguém ou algo) vil, rebaixado, indigno; desvalorização, aviltamento” e isso se vê claramente na encenação da Gaviões.
Mas a falta de respeito foi além da avenida, pois ao deixar o Sambódromo, a bateria se dirigiu a pé, cantando e tocando seus instrumentos até a sede da escola, ocupando parte da Marginal Tietê e impedindo o trânsito de veículos, sem autorização da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Para piorar, o samba-enredo requentado sugere que fumar é um ato de liberdade para a mulher, “um raro prazer, sabor de emoção”.
Diante de todas as demonstrações de falta de respeito por parte da Gaviões — que provavelmente terá de responder na Justiça — ficam as perguntas:
E se no lugar de Jesus estivesse um negro e no lugar do diabo um branco? O que diriam sobre um branco agredir um negro, arrastrando-o pela avenida? E se no lugar de Jesus estivesse um homossexual e no lugar do diabo um heterossexual? O que diriam sobre um hétero agredir um gay, arrastrando-o pela avenida? Será que diriam que é apenas arte?
Creio que não. O que se gritaria aos quatro ventos é que se trata de um incentivo à violência, uma demonstração clara de preconceito, um crime que não pode ficar impune. O que temos de lembrar é que não pode existir justiça em um país onde há dois pesos e duas medidas. de culto religioso.”
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