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Para fazer as coisas rápido, a ditadura é o melhor regime

Carlos Bolsonaro diz ter sido mal interpretado ao reclamar da velocidade das mudanças em uma democracia e ele tem razão 

Velocidade é algo que a democracia raramente é boa em entregar

Carlos Bolsonaro esbravejou e disse que foi mal compreendido. Quando escreveu em suas redes sociais que “por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos” ele não estaria, de forma nenhuma, sugerindo a adoção de outra forma de governo. Algo assim, sei lá, como a gerontocracia, por exemplo. Seu propósito era apenas declarar o óbvio: nas democracias, as coisas às vezes demoram a acontecer. Na Câmara dos Deputados, Eduardo Bolsonaro foi em socorro do irmão mais velho, recordando em um discurso a frase do inglês Winston Churchill: “A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que já foram experimentadas”.
Há gente que gosta e gente que não gosta da democracia. Aqueles que gostam, deveriam mencionar com mais frequência a frase de Churchill. O grande primeiro-ministro britânico era um mestre em gerenciar expectativas. Quando a Inglaterra começou a combater os nazistas, na 2ª Guerra Mundial, ele não prometeu um passeio no parque. Disse que deveriam esperar “sangue, suor e lágrimas”. Da mesma forma, foi sábio ao descrever a democracia como um regime falho. Nada é perfeito debaixo do sol, e propaganda exagerada é um método infalível para causar decepção. Isso vale para qualquer coisa: carros usados, dotes pessoais, formas de governo. O mito da democracia impecável faz mal a ela.
Velocidade é algo que a democracia raramente é boa em entregar. Trata-se de um modelo em que é preciso criar consenso em torno de mudanças antes de concretizá-las. Quanto mais complexa a sociedade, mais tempo isso pode levar. Às vezes é impossível chegar ao consenso em temas espinhosos. Nada acontece. É quando a democracia causa frustração. Existem também momentos em que toda a parafernália de debates e votações no Congresso parece não ser mais do que um teatro mesquinho para a promoção de interesses particulares. É quando a democracia cria indignados. Mas também há períodos em que o sistema dá a impressão de girar em falso, sem que esse seja necessariamente o caso. A roda pode estar girando devagarinho em direção a mudanças. Como um modelo tributário mais simples e eficaz, por exemplo. É a democracia trabalhando, à sua maneira.
Quando se trata de fazer as coisas rápido, não existe regime melhor do que a ditadura. Elas são superiores à democracia na sua capacidade de implementar projetos, porque não precisam convencer ninguém, nem criar coalizões. O chefe manda, obedece quem tem juízo. Com isso, as ditaduras podem conquistar bons resultados no campo do desenvolvimento econômico. A história traz vários exemplos, a começar pelo Brasil dos anos 1970. Nos anos 80, as ditaduras asiáticas da Coréia do Sul, Taiwan e Singapura tornaram-se tigres econômicos. Nos anos 90, foi a China quem ganhou tração.
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Há quem use a expressão “ditaduras economicamente benévolas” para falar desses casos. Singapura é o exemplo extremo. O país era assustadoramente miserável em 1965, quando Lee Kwan Yew subiu ao poder. Em suas três décadas como primeiro-ministro, Singapura deu um salto espetacular de desenvolvimento. Hoje, é um país rico e estável. O atual primeiro-ministro é o filho mais velho de Yew.
O problema é que, na média, ditaduras não são melhores para o desenvolvimento econômico do que as democracias. Para cada Singapura existe um punhado de regimes autocráticos em que apenas o círculo do poder enriquece, enquanto o resto da população agoniza. Vejam o caso de nosso vizinho, a Venezuela, que vive a escassez de tudo, de comida a papel higiênico. E se nem a economia vai bem, geralmente não há nada que se possa chamar de “benévolo” em uma ditadura. Mesmo os habitantes de Singapura, no geral em paz com seu regime, reclamam que o poder no país é pouco transparente e pouco disposto a prestar contas de suas ações.
Democracias não primam pela eficiência. Não é isso que a sua arquitetura favorece. Elas permitem que haja trocas de poder sem guerra civil. E impedem que diferenças de opinião sejam resolvidas na base da violência ou da repressão. Democracia, disse alguém, é antes de tudo aquele regime em que se alguém bate na sua porta de madrugada, pode até ser má notícia, mas não será a polícia secreta. O preço a pagar é uma certa lentidão. De tempos em tempos, surge consenso em torno de uma boa ideia — como aconteceu no Brasil em torno do Plano Real — e as coisas se aceleram, antes de voltar ao normal. Ao ler a queixa de Carlos Bolsonaro nas redes sociais, lembrei de um bordão que meu velho pai usava quando eu ficava impaciente. Não sei qual é a origem, mas não me surpreenderia se fosse coisa do período militar. Sugiro ao Carlos, meu xará: Calma, que o Brasil é nosso.
*Carlos Graieb é diretor de Public Affairs e Advocacy na FleishmanHillard Brasil, tem 25 anos de experiência como jornalista e executivo de mídia em veículos
como Revista Veja e O Estado de S. Paulo. De janeiro de 2017 a março de 2018, foi Secretário de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo, responsável pelas estratégias de comunicação e marketing da administração e de empresas estatais como Metrô e Sabesp. 
R7

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