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quarta-feira, 27 de novembro de 2019
Consequências para a saúde quando os horários para o sono são alterados
O Organismo fica exposto a alterações fisiológicas e psíquicas; alimentação regular ajuda a reequilibrar funções internas.
Cerca de 95% da população mundial tem o corpo biologicamente regulado para estar em atividade durante o dia e repousar à noite. Mas é comum que pessoas não sigam este ritmo. Seja por trabalho, insônia, ansiedade ou costume, o estudos indicam que tem aumentado a quantidade de indivíduos que precisam alterar o ritmo de sono.
O efeito é que cada vez mais pessoas estão expostas a alterações fisiológicas, metabólicas e até a câncer. Para diminuir os riscos à saúde, especialistas sugerem uma rotina com alimentação saudável e horário para dormir, porque corpo precisa entender que há uma nova hora para descanso e outra de trabalho”
Mas por que as alterações? O corpo humano tem o ciclo circadiano, um tipo de relógio biológico que regula todos os ritmos do organismo: produção das glândulas nos órgãos, atividade mental e psíquica, metabolismo, apetite e disposição. Se um desses ritmos é alterado por circunstâncias externas, por exemplo horário de trabalho, todo o organismo fica desequilibrado. A importância do ciclo circadiano é tão grande que um estudo sobre o assunto foi o vencedor do Prêmio Nobel de Medicina 2017.
O prémio Nobel da Medicina 2017 foi atribuído a três investigadores estadunidenses nascidos na década de 1940: Jeffrey C. Hall, da Universidade do Maine, Michael Rosbash, da Universidade Brandeis (Waltham) e Michael W. Young, da Universidade Rockefeller (Nova Iorque) pela descoberta dos mecanismos moleculares do ritmo circadiano, o relógio biológico que regula os organismos.
Para perceber como funciona o relógio biológico dos seres vivos, os investigadores usaram a mosca da fruta como organismo modelo e conseguiram isolar o gene que controla este ritmo diário – também chamado de ritmo circadiano. Este gene é responsável pela produção de uma proteína que se acumula nas células durante a noite e é degradada durante o dia. Depois deste, outros genes com influência direta e indireta no relógio foram sendo descobertos.
A proteína produzida durante a noite tem assim um ciclo de 24 horas que acompanha o ritmo circadiano: umas vezes a produção é estimulada, outras vezes é inibida. Um relógio que faz com que os mecanismos avancem ou recuem resulta no organismo, mas deixaria o relógio de pulso com os ponteiros trocados.
Ainda que tenha sido estudado nas moscas da fruta, este mecanismo existe em todas células e formas de vida: dos organismos unicelulares, como as bactérias, até aos organismos mais complexos como plantas e animais – incluindo o homem. Sabe-se também que os ritmos circadianos são mecanismos muito antigos e que se mantiveram mais ou menos inalterados durante a evolução.
Enquanto o relógio de pulso bate os segundos a um ritmo certo e constante, o nosso relógio biológico é capaz de se adaptar aos vários momentos do dia, incluindo à presença ou ausência de luz. E se o relógio de pulso nos ajuda a prevenir os atrasos, o nosso relógio interno tem influência no nosso comportamento, ciclos de sono, metabolismo, temperatura corporal e produção de hormonas.
O sistema circadiano é um mecanismo auto-sustentado, com ciclos de 24 horas, condicionado por estímulos externos, como a luz, e que afetam processos fisiológicos (que regulam os organismos).
Apesar de a luz ser um dos principais estímulos do relógio biológico, o que os investigadores agora galardoados conseguiram demonstrar é que o relógio funciona mesmo quando os organismos são colocados às escuras.
Mas, tal como um relógio de sol que sem a luz do astro rei não cumpre a sua função, o nosso relógio interno também fica desregulado com alteramos os ciclos de dia e noite ditos normais, como quando viajamos para um país com um fuso horário completamente diferente daquele de onde partimos, quando trabalhamos por turnos ou quando fazemos uma direta.
Se a pilha gasta do relógio de pulso rebentar no interior do aparelho arriscamo-nos a ficar com um relógio avariado. Da mesma forma, a interferência no nosso ritmo circadiano, por exemplo com maus hábitos de sono, pode levar ao aparecimento ou agravamento de doenças, como distúrbios metabólicos, doenças neurodegenerativas ou cancro. Por outro lado, as doenças também podem afetar o ritmo circadiano.
A investigação desenvolvida por Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash, e Michael W. Young permitiram perceber os mecanismos básicos de controlo do relógio interno. As implicações desse controlo (e da falta dele) deram origem a uma área de investigação em expansão, não tivesse este mecanismo tanta influência na nossa saúde e bem-estar.
Onde nos leva o relógio biológico?
Um dos produtos desta investigação são os modelos de relógios moleculares cada vez mais complexos, com muito mais genes e proteínas envolvidos na regulação dos mecanismos – uns ligam, outros desligam. Por isso, será mais correto dizer que o relógio biológico de um animal, mais do que um relógio de pulso, é uma loja de relógios em que todos têm de estar sincronizados.
O relógio central desta rede complexa está localizado no hipotálamo – uma região do cérebro responsável por regular muitos processos fisiológicos. A luz é o principal estímulo externo deste relógio que controla os relógios periféricos, como os que estão localizados no fígado ou no estômago. Mas não é o único, como foi demonstrado pelos laureados.
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