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sexta-feira, 31 de julho de 2020

“Ele não fazia perguntas normais”, diz paciente expulso de consultório por médico armado após discussão por teste de Covid-19



Era para ser uma consulta médica, mas virou uma grande confusão. Nesta sexta-feira, um dia depois da discussão com o médico Enio Studart, num consultório na Barra da Tijuca, que terminou na delegacia e com o profissional preso, o empresário Luzimar Quaresma Brum conta que ainda tenta assimilar o que aconteceu. O desentendimento, segundo ele, começou quando o pneumologista começou a fazer questionamentos e duvidar da efetividade de um teste para Covid-19 que ele fez há dois meses, e deu positivo para a doença. Uma troca de insultos entre os dois terminou com o doutor empunhando uma arma e ordenando que o cliente fosse embora.
Luizmar conta que, depois de ter pego o novo coronavírus há cerca de dois meses, começou a sentir uma falta de ar ficou preocupado. Foi então que a filha dele fez uma pesquisa na internet e encontrou o consultório de Enio, que ele nunca tinha ido antes. Ela marcou uma consulta para ele nesta quinta, às 12h30m, mas a pedido da secretária, ele chegou um pouco mais cedo. Ele afirma que, logo no início da consulta, o médico começou a duvidar de seu diagnóstico.
— Eu entrei no consultório e expliquei que tinha pego a Covid e que não estava me sentindo bem, e aí ele perguntou quem me falou que eu tinha tido a doença. Aí expliquei, que fiz o teste do dedo, num médico indicado por um amigo. Ele disse que aquilo não servia como teste, que eu tinha que fazer outro. Tudo que eu falava, ele questionava. Ele não fazia perguntas normais, fazia questionamentos com agressividade. Não parecia estar num dia bom — conta.
Nesse momento, ele afirma que começou a confusão.
— Eu falava o que eu tinha e ele ficava me rebatendo… aí eu também perdi a paciência e falei: “Olha, doutor, vamos começar tudo de novo. Eu fiz o teste da Covid em São João de Meriti e deu positivo”. E disse para ele me respeitar para ser respeitado. Foi quando eu disse que fui à clínica achando que ia encontrar um médico, mas não encontrei ninguém. Ele se enfureceu, tirou o jaleco e veio pra briga. Eu também fui, disse que cairia pra dentro. Mas aí ele pegou uma pistola dentro da sala dele, apontou pra mim e mandou eu ir embora, dizendo que se eu não fosse ele iria me matar.
Ao GLOBO, a defesa do doutor Enio Studart afirmou que o desentendimento começou porque Luizmar estaria sem máscara no consultório, desrespeitando as regras de prevenção ao novo coronavírus. O empresário, dono de um shopping em Vilar dos Teles, em São João de Meriti, nega a versão.
— É mentira. Eu não ando na rua sem máscara. E eu fui até a delegacia acompanhando de dois policiais militares. Eles teriam me dado algum tipo de advertência. Chegando lá ele disse para os policiais que tinha ido até lá de Uber e eles acabaram encontrando o carro dele cheio de arma. Ele é um desequilibrado — concluiu.
Médico Enio Studart: defesa afirma que ele é atirador profissional e ia para clube de tiro após consulta Foto: Reprodução
Defesa diz que médico é ‘atirador profissional’ e que armas são registradas
Enio foi preso em flagrante nesta quinta pela equipe da 16ª DP (Barra da Tijuca) coordenada pela delegada Fernanda Noethen, segue detido, e responde pelos crimes de ameaça e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. Dentro de seu carro, estacionado próximo à delegacia, inspetores da Polícia Civil encontraram um revólver calibre .38, uma pistola calibre .32, um soco inglês, duas facas, 24 munições de calibre .38, nove munições de calibre.32 e um carregador de pistola .32.
Em nota, a defesa do médico, representado pelo advogado Bruno Rodrigues, garantiu ainda que as armas encontradas são todas registradas junto ao Exército, ao contrário do que afirmou a polícia. O comunicado afirma ainda que Enio iria naquela tarde a um clube de tiro e, por isso, estaria com todo o equipamento dentro de seu automóvel:
“A defesa do médico ENIO PIRES STUDART, em razão da reportagem publicada no dia de hoje, vem a público se manifestar acerca do teor da reportagem, esclarecendo:
a) Que a divergência com o paciente se deu diante da recusa do mesmo em usar máscara no consultório, contrariando assim os protocolos mundiais de saúde, tendo o médico procurado a autoridade policial para proceder o registro policial;
b) O Sr. Enio é atirador profissional, possuindo registro de todas as suas armas junto ao Exército, entendo a autoridade policial, de forma equivocada, que a guia de tráfego estaria vencida;
c) Por fim, quanto as armas que estavam no seu veículo o mesmo esclarece que iria naquela tarde ao seu clube de tiro, tendo o seu veículo sido objeto de busca sem ordem judicial, não tendo o mesmo franqueado o acesso”.
O Globo

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