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MEU PAI: MEU SANGUE!

Ele era um Mestre sem ter feito Mestrado; era um Doutor sem ter Doutorado. Sabia negociar como ninguém, e não conhecia signos linguísticos grafados. Conhecia a vida, do alto de suas retinas tão corajosas e fatigadas. A vida em seu estado sólido, em seu estado bruto. Ensinou-nos a arte do bem viver.


 Muito tempo depois, estudando o Direito Romano, descobri verdades que meu pai me ensinara, em sua simplicidade, sem saber que estava reiventando brocardos romanos: honest vivere, alterum non laedere, suum quique tribuere, ou seja, Viver Honestamente, Não Causar Danos a outrem e Dar a cada um o que é seu. Assim era Gabriel dos Cocos, na praticidade de uma vida sofrida, que conquistou bens materiais e ascensão social.
Os filhos eram seu tesouro particular: ai daquele que ameaçasse um filho seu, ai daquele que quisesse humilhá-los. Ele reagia, e tinha uma frase pronta para os desafetos: Meu filho tem um PAI. Não está sozinho neste mundo. Sou capaz de dar a minha vida para defendê-los. Sua esposa era uma Rainha do Lar, a quem ele chamava pelo primeiro nome, docemente: CREUZA! CREUZA!
Certa vez, percebendo que eu estava contrariado com ele, por algum problema, proferiu uma frase até hoje inesquecível, dessas que vou levar para o túmulo: VOCÊ É MEU FILHO! VOCÊ É MEU SANGUE!
Está aí um Pai que muito sabia ser Pai. Estava presente mesmo estando ausente. Sua ausência era uma sombra protetora. Longe dele o relógio demorava o seu trabalho, mas em nossa casa ecoava uma voz materna ou fraterna, nos quatro cantos: SEU PAI JÁ VEM! SEU PAI JÁ VEM!

ELE se acordava às três ou quatro da manhã para ir ao incansável trabalho. Retornava ao meio dia para almoço e sono sagrado até as quatorze horas, ou treze e trinta. Em seguida retornava a trabalhar em sua Camionete, e somente voltava na hora do Jornal Nacional, para jantar e assistir ao periódico global. Ninguém sabia, mas ele tinha prazer ao ver ali, na mesa do jantar, mulher e filhos religiosamente reunidos.
Hoje em dia, está muito difícil de alguém ter um Pai como aquele, pelo menos na minha modesta opinião. Pais e heróis talvez existam muitos, para muitos filhos. MITOS são poucos.
Ao meu pai nunca perderei a esperança do reencontro, já que o Cristianismo visitou sua vida e dos seus olhos e boca ouvimos uma confissão de fé. Abraços saudosos, MEU SANGUE!
UMA HOMENAGEM AO HOMEM QUE ME DEU A VIDA, GABRIEL SEBASTIÃO DO NASCIMENTO(in memorian). 
ANTÔNIO CARLOS DO NASCIMENTO(FILHO CAÇULA)

3 comentários

Adriana Nascimento disse...

Meu sogro, que infelizmente não tive o prazer em conheço-lo, mas, que um dia temos essa certeza de que iremos nos encontrarmos na Glória.
Ao saudoso Gabriel dos cocos, que começou sua vida vendendo limão na feira livre de sua cidade, e se tornou-se um dos homens mais bem sucedidos de Canguaretama, mesmo sendo um semi-analfabeto, alcançou o topo de sua conquista, quem mora em Canguaretama sabe o que estou dizendo.

AMIGO DE CANGUAREMA disse...

Ao saudoso Gabriel dos cocos, me dá saudades em ler essas tão sublime homenagem feito por seu filho, Homem honesto, verdadeiro, aqui em canguaretama até hoje lembramos desse homem rico que não se parecia com rico, um homem que teve muitos bens mas sua humildade era que prevalecia, Ainda me lembro desses velhos tempos quando chegava no quintal de sua e só de vez cheguei a contar 19 carros, homem rico que não parecia ser rico, homem que gostava de ajudar as pessoas sem ser politico, há que saudades do Gabriel dos cocos, Parabéns pela belíssima homenagem Dr: Antônio carlos

amigo blogueiro disse...

Parabéns pela história de vida de seu pai Dr: Antônio, seu pai assim como meu, me serviram de alicerce para minha vida.
Meu pai não está mais comigo, mas, sua lembrança está para sempre guardado dentro de mim