Últimas notícias

Evangélica alimenta 230 crianças por dia em favela de SP



Marlene Garcia, 59 anos, todos os dias, sem ajuda do governo, alimenta 230 crianças numa favela na zona sul de São Paulo. A nome da ONG Reviver, comanda por ela há 12 anos no Morro da Macumba, tem origem numa imagem bíblica.


“Reviver é como se você estivesse num vale de ossos secos. Você faz força para levantar. Então você levanta. Revive e vai procurar emprego”, explica Marlene, que é evangélica. Ela conta que já passou fome e seu principal objetivo é não permitir que as crianças que ajuda passem por isso.

Muitos dos moradores da favela com 10 mil moradores costumavam garimpar comida no lixo. Foi isso que a motivou a começar. “Tenho muito dó de criança, não sei por que, começou do nada. Vejo uma com fome, pobrezinha, quero trazer para cá”, explica a ex-empregada doméstica.

Tudo começou no final da década de 1990, quando Marlene trabalhava em uma padaria. Certo dia, em 1995, levou alguns pães que sobraram para a favela e distribuiu. Formou-se uma grande fila e ela então percebeu o tamanho da necessidade.


Junto com a filha, Vanessa Garcia, 33, levou as crianças para a igreja evangélica que frequenta. Lá elas tinham aulas de teatro e de música. “Mas uma hora eu percebi que elas queriam mesmo era comer, porque não tinham comida em casa”, lembra.
Marlene decidiu então pedir alimentos para conhecidos, como as ex-patroas e comerciantes. Logo já tinha quase 200 crianças dependendo dela. Naquela época, o Morro da Macumba sofria com uma guerra entre traficantes. As crianças eram usadas como soldados, ou como escudos e acabavam morrendo.


“Fui falar com um chefe do tráfico e pedi para ele nunca mais usar uma criança”, lembra Vanessa. “Ele aceitou.”

Dez anos depois de começarem a distribuição, Marlene e Vanessa decidiram usar um galpão que ficava no topo da favela. Em 2005 aquele local ainda era usado como ponto de tráfico e cativeiro de sequestros. “Falamos com os traficantes, mostramos o nosso projeto”, lembram. Surpreendentemente, eles saíram e o dono do espaço o cedeu à Marlene.
Políticos não entram

O Morro da Macumba tem centenas de barracos ainda sem saneamento básico. Vanessa resume: “Nossa comunidade é abandonada politicamente. Nenhum político volta.” Desde que foi oficializada como ONG, a Reviver decidiu que não receberia um centavo de nenhum governo, pois “políticos não entram”.

O tráfico e o consumo excessivo e drogas continua sendo um grande problema na comunidade. Algumas crianças ajudadas pela ONG são filhas de presidiários ou de pessoas viciadas. Ou os dois.

Aqui a gente recebe as crianças mais pobres. A criança não tem culpa se o pai é bandido, toda criança é boa”, explica Marlene, que visita os barracos regularmente para conhecer as necessidades de cada família.
Atualmente, Marlene fica no galpão das 8h às 22h, todos os dias. Conhece o nome (ou o apelido) de todas as 230 crianças que alimenta, as quais trata como filhos.

O projeto cresceu e recebe diferentes apoios. Alguns empresários pagam as contas, doam comida. Os amigos ajudam a limpar e a Pastoral da Criança colabora doando metade dos alimentos. Muitos voluntários que trabalham ali são crianças que passaram pelo galpão e decidiram colaborar.

As crianças que frequentam a ONG, além de receber comida passam quatro horas do dia no local, onde têm reforço em matemática e português e aulas de inglês e francês (dada por voluntários). Com informações de Folha

Nenhum comentário