A guerra ideológica por trás da reunião com os governadores da Amazônia legal .
O encontro entre os Governadores do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal e o Presidente Bolsonaro, ocorrido nesta terça, 27, deixou claro que não foge à regra da polarização que atualmente está presente em todo país.
Semelhante ao antigo muro de Berlim, que separou a Alemanha em dois blocos -o capitalista e o comunista- na época da guerra fria, o Consórcio também se dividiu em dois grupos, diametralmente opostos.
Ocorre que seguindo a sugestão do Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, a partir de agora, as ações emergenciais de combate aos incêndios serão coordenadas com os Governadores entre Amazônia Ocidental e Amazônica Oriental, seguindo critérios militares.
Tal como na época da Guerra fria, do lado ocidental ficaram os governadores e Estados ligados ao Comando Militar da Amazônia: Gladson Camelli (PP), do Acre, Wilson Lima (PSC), do Amazonas, Marcos Rocha (PSL), de Rondônia, Antônio Denarium (PSL), de Roraima, Mauro Mendes (DEM), além de Mato Grosso (do Comando Militar do Oeste), e Mauro Carlesse (DEM), do Tocantins (do Comando Militar do Norte).
Do oriental, vinculado ao Comando Militar do Norte, estão Waldez Góes (PDT), do Amapá, Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, e Helder Barbalho (MDB), do Pará. ( veja matéria da Revista Exame)
Propositalmente ou não, essa divisão, todavia, também coincide com os aspectos ideológicos antagônicos presente no Consórcio de Governadores. O ‘lado ocidental’ é mais simpático ao Presidente, e o oriental, composto por políticos do PCdoB, PDT e MDB, não.
O bloco oriental não poderia perder a oportunidade, em que os olhos do Brasil e do mundo estavam voltados para reunião, para alfinetar Bolsonaro, ou para usar um jargão muito usado nas redes sociais, para “lacrar”.
O Governador do Pará foi o primeiro a criticar, após uma fala sobre a “internacionalização” da Amazônia. Aproveitando o embate Bolsonaro e o Presidente da França, Helder Barbalho disparou:
“ acho que estamos perdendo muito tempo com Macron. Acho que temos que cuidar do nosso país e tocar a vida, estamos dando muita importância para esse tipo de comentário, não desprezando a importância econômica que a França possa ter”
Não querendo sair por baixo, Flávio Dino rebateu de outro lado “Nós não podemos negar dinheiro, porque rasgar dinheiro não é algo sensato na atual conjuntura”.
O maranhense prosseguiu contestando a demonização dos ambientalistas: “Não podemos dizer que as ONGs são inimigas do Brasil. Não será tacando fogo nas ONGs que nós vamos salvar a Amazônia”.
O certo é que, não obstante haja algum fundo de verdade nas críticas dirigidas ao Presidente Bolsonaro, há muito hipocrisia e interesses ideológicos por trás delas.
É o caso dos três governadores do lado oriental. Waldez Góes, do Amapá, é acusado de ter ligação com a Amapá Florestal e Celulose (Amcel), empresa multinacional acusada de ser uma das principais responsáveis por grilagens de terras públicas no estado. Na campanha de 2014, a Amcel fez doação eleitoral para a campanha de Waldez. Em 2017, o governador apoiou a entrada da empresa no setor de grãos (Veja aqui).
Já Flávio Dino, do PCdoB, recentemente expulsou manifestantes da frente do Palácio dos Leões, sede do governo Maranhense (Veja aqui), que protestavam contra a desocupação de uma área na zona rural de São Luís. Flávio Dino e empresários querem desocupar a comunidade tradicional Cajueiro para a construção de um mega porto (Veja aqui). O deputado estadual Wellington do Curso denunciou a devastação de mata nativa na região do Cajueiro, com a permissão de Flávio Dino (Veja aqui).
E por último, Helder Barbalho, que não enviou a PM do Pará para ajudar o IBAMA a combater o ‘dia do fogo’ (Veja aqui). Helder Barbalho sancionou este ano a nova lei das terras do Pará, que segundo especialistas e ambientalistas, vai favorecer a grilagem e o desmatamento no estado (Veja aqui). Helder é investigado, dentro da operação Gramacho, por ser supostamente sócio da empresa que administra o Aterro Sanitário de Marituba, na Região Metropolitana de Belém (Veja aqui). O nome do então ministro aparecia em uma conversa entre um dos alvos da investigação, Claudio Toscano, então diretor do aterro de Marituba. Mas os alvos da investigação eram as empresas Solvi, Vega e Guamá Tratamento de Resíduos e pessoas físicas que atuam na direção do empreendimento Central de Processamento e Tratamento de Resíduos (CPTR), em Marituba. Há vários indícios de crimes ambientais cometidos por essas empresas.
Helder também é acusado pelo prefeito de Itaituba, Walmir Climaco (MDB), de autorizar a construção de uma ponte dentro da Floresta Nacional do Jamanxim para escoar madeira ilegal, conforme o Pará Web News publicou ontem (Veja aqui).
Independentemente de muros e blocos, a Amazônia precisa muito mais de atos concretos que protejam a fauna, flora e o homem amazônico de forma sustentável, do que a histeria e hipocrisia dos que gritam “salvem a Amazônia”, mas no fundo pouco se importam com ela.
Menos muro e mais Amazônia.
https://parawebnews.com.
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