NO MEIO DOS PROFESSORES, HÁ BULLYING CONTRA O COLEGA QUE DISCORDA DA ESQUERDA
O surgimento do movimento nacional dos Docentes Pela Liberdade reitera a percepção de que, para o pensamento hegemônico, o eco de outras vozes precisa ser silenciado
Durante os últimos anos, a categoria dos professores – em todos os níveis de aprendizagem, educação e formação – vendeu-se a si mesmo como um segmento monolítico, com pensamento convergente guiado por uma mesma centralidade ideológica. Era como se nesse campo profissional nem houvesse a “necessidade” de que o círculo de opressão e de patrulhamento da chamada espiral do silêncio fosse utilizado.
Acontece que o bloco monolítico começa a revelar suas fissuras – e não mais dentro de uma mesma linha de raciocínio, dentro de um mesmo modo de reduzir a realidade aos mantras definidos e aceitos como normais. E ao contrário do caminho que deveria ser natural em tais situações, percebeu-se a opção pelo caminho mais simples, pela via mais fácil de estereotipar. Ao conceituar, rotular e tratar como “fascistas” os que ousavam de modo individual em um primeiro momento e agora de modo coletivo e com abrangência nacional, os que determinam a amplitude e os limites do status quo recorrem a velha fórmula que une de modo leviano chavões e conceitos, sem refletir sobre o conteúdo dos primeiros e sem debruçar-se sobre a razão e o sentido dos segundos.
É dentro desse conceito de que o divergente precisa sim ter seu espaço que o movimento Docentes Pela Liberdade – lançado nacionalmente na noite de terça-feira, 3, na Universidade Estadual de Londrina (PR) e que terá eventos, reuniões e debates em mais de uma dezena de estados durante esta quinta, 5 – surge.
Claro que esse grupo tem sido fustigado e reiteradamente estereotipado, porque o simplismo é inerente a quem se pensa dono de uma área e, de repente, se dá conta de que aquilo que era facilmente exposto à execração é bem mais relevante e representativo do que o discurso hegemônico optou por utilizar para referir-se a quem não pensava segundo a cartilha e seus dogmas.
Mas o que querem aqueles que participam do DPL-Docentes Pela Liberdade?
Segundo a página do movimento: “Somos um grupo de mais de 300 docentes pertencentes a 24 estados do Brasil unidos pela defesa da liberdade com responsabilidade e em oposição ao patrulhamento ideológico nas instituições de ensino. Prezamos pela qualidade acadêmica, liberdade, eficiência administrativa, respeito ao dinheiro público, sustentabilidade, justiça e igualdade de todos perante a Lei e pela verdade.”
Mas por que raios um grupo que se pauta por valores claros é retratado pelo simplismo de chavões que ficariam melhor em alguma discussão em boteco do que no ambiente pedagógico?
Porque essa tem sido a forma histórica preferencial de enfrentamento: a estereotipação. É dessa forma que se busca evitar o debate e o respeito pelo divergente. Se alguém acha que não é assim e que as pessoas andam vendo fantasmas, cabe lembrar que um estudante andando nu no ambiente de uma universidade é mais tolerado e respeitado em sua individualidade do que alguém que ouse caminhar nesse mesmo espaço com uma camisa do Bolsonaro, por exemplo.
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