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Quando os companheiros matam

A história tem numerosos exemplos de militantes esquerdistas “justiçados” pelos próprios companheiros

Quando os companheiros matam

Ao longo da história, ninguém matou mais comunistas do que os próprios comunistas. Digam o que quiserem, mas eu sinto uma grande compaixão por essas vidas perdidas.

Em 1860, o jovem militante radical Serguei Netchaiev fundou na Rússia uma organização terrorista chamada Justiça Sumária do Povo, que tinha por objetivo o assassinato de inimigos políticos e a destruição da família, da religião e da propriedade. Um estudante de agronomia chamado Ivanov desentendeu-se com Netchaiev e resolveu criar a sua própria organização política. Furioso com a insubordinação, Netchaiev convenceu quatro de seus companheiros a assassinar Ivanov. O episódio inspirou Fiodor Dostoiévski — que já havia participado de uma organização revolucionária — a escrever o clássico “Os Demônios”.

O assassinato de militantes revolucionários por seus próprios companheiros leva o nome de “justiçamento”. Em 1936, após a fracassada Intentona Comunista, a jovem Elza Fernandes, de apenas 16 anos, amante do então secretário-geral do Partido Comunista do Brasil, foi “justiçada” por ordem da cúpula do próprio PCB. Os executores utilizaram uma cordinha de varal para matar a adolescente, acusada de traição. A história desse crime está no romance “Elza, a Garota”, de Sérgio Rodrigues.

Em junho de 1970, a direção da Aliança Libertadora Nacional, grupo de extrema-esquerda, censurou dois militantes, Ari da Rocha Miranda e Wilson Conceição Pinto, por demonstrarem vacilação e fraqueza na luta revolucionária. Dias depois, durante um assalto ao Banco Nacional de Minas Gerais, em São Paulo, o terrorista Eduardo Leite, conhecido como Bacuri, matou Ari com um tiro no peito e feriu Wilson no braço. O militante ferido fugiu para longe do grupo, procurou socorro no Hospital São Camilo e se entregou à polícia.

Em 23 de março de 1971, o jovem comunista Márcio Toledo Leite escreveu uma carta à direção da ALN, expondo os motivos pelos quais queria se desligar do grupo. A resposta da ALN veio na forma de dez tiros de revólver calibre 38 e pistola 9 mm, disparados por seus companheiros de organização.

Em 22 de junho de 1973, o militante Salatiel Teixeira Rolim, do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, foi justiçado por seus companheiros. Era suspeito de traição (teria causado a prisão de outros militantes) e desvio de verbas do PCBR. A execução se deu em um bar que Salatiel teria comprado com o dinheiro do partido; na verdade, ele era um simples funcionário do bar.

Se analisarmos os exemplos históricos, veremos inúmeras histórias semelhantes na Rússia, China, Romênia, Hungria, Tchecoslováquia, Coreia do Norte, Vietnã, Cambodja, Cuba e outros regimes socialistas. Para se ter uma ideia, Stálin mandou fuzilar todos os seus antigos companheiros líderes da Revolução Russa, com as exceções de Lênin (já falecido) e de Molotov.

Diante de tudo isso, considero importante responder às seguintes questões históricas, para as quais até hoje não há resposta:

— Quem mandou matar Serguei Kirov?

— Quem mandou matar Camilo Cienfuegos?

— Quem mandou matar Eduardo Campos?

— Quem mandou matar Toninho do PT?

folhadelondrina



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