O incêndio do Museu Nacional do Rio foi “a queima de 200 anos de História”
Uma “perda traumática”, “absoluta e irremediável”, “irreparável”, “uma tragédia”, “uma vergonha internacional” – foi assim que os investigadores, historiadores, antropólogos brasileiros e portugueses ouvidos pelo PÚBLICO descreveram o impacto do incêndio que, desde o final de domingo (19h30 no Rio, 23h30 em Lisboa) e até metade do dia de segunda-feira, destruiu quase totalmente o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, edifício histórico com 200 anos, reduzindo a cinzas colecções únicas e insubstituíveis.
“Estou devastado, é um pedaço da minha vida que vai embora”, diz Gustavo Pacheco, antropólogo, diplomata e escritor brasileiro, que passou seis anos a investigar para o seu doutoramento naquela que é a instituição científica mais antiga do Brasil e que tinha um acervo de 20 milhões de peças. Entre esse acervo encontrava-se o Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado na América do Sul, com cerca de 12 500 anos, múmias egípcias, o meteorito Bendegó encontrado no século XVIII (que sobreviveu, resistindo ao fogo) e colecções reunidas durante gerações por investigadores de diversas áreas.
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O Governo português emitiu ao final do dia um comunicado manifestando a sua “profunda tristeza pela perda de um acervo histórico e científico insubstituível” e declarando-se “inteiramente disponível para, no que for útil e possível, colaborar na procura da reconstituição deste importante património identitário, não apenas do Brasil, mas de toda a América Latina e do mundo”.
Até ao final desta segunda-feira era ainda difícil fazer o balanço das perdas, mas a dimensão do incêndio não deixava dúvidas de que elas foram gigantescas. Gustavo Pacheco dá um pequeno exemplo pessoal: entre os materiais que usou na sua pesquisa encontravam-se as gravações feitas pelo antropólogo Edgard Roquette-Pinto, que, em 1912, durante a Missão Rondon, passou várias semanas com os índios nambiquaras, que não tinham tido contactos anteriores com a civilização.
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