Crônicas Policiais: "SÃO JARARACA DE MOSSORÓ"
Por Erick Guerra, O Caçador
Quem for no Cemitério de São Sebastião, em Mossoró/RN, pode ver um túmulo muito bem cuidado, palco de adoração e idolatria, principalmente no Dia de Finados (02 de novembro). Trata-se da cova de um dos piores criminosos que já puseram os pés em solo potiguar, o cangaceiro Jararaca. Assassino, ladrão, torturador, membro de facção criminosa (no caso, o Bando de Lampião), sequestrador - tudo isso Jararaca era e morreu sendo. De forma absurda, no entanto, hoje é considerado um santo e há quem lhe atribua milagres...
Ao centro da foto, o bandido José Leite de Santana, vulgo Jararaca, quando preso em Mossoró (junho de 1927)
No dia 13 de junho de 1927, Lampião e cerca de uma centena de outros vagabundos de seu bando atacaram a cidade de Mossoró, após percorrer parte do Alto Oeste Potiguar deixando rastro de crimes e violência. Na ocasião, Jararaca tinha 26 anos e era líder de um dos subgrupos que compunham a vassalagem de Virgolino Ferreira. No combate que se seguiu à invasão da cidade, que foi defendida por uma milícia heróica de voluntários civis, Jararaca foi ferido enquanto tentava surrupiar os pertences e dinheiro de um seu companheiro de crimes, o cangaceiro Colchete, morto pouco antes (em combate) com um tiro na cabeça. Com um balaço no peito e outro no pé da bunda, Jararaca foi abandonado pelo resto do bando e, então, capturado pelos defensores de Mossoró.
Prisioneiro, José Leite de Santana, vulgo Jararaca, natural de Buíque/PE e desertor do Exército Brasileiro, deu entrevistas em que entregou importantes coiteiros e detalhes a respeito de Lampião e seu grupo criminoso. Finalmente, foi passado pelas armas pelas autoridades, no tipo de atitude que pôs fim ao Cangaço, por um lado, mas por outro, levantou polêmica dentre as pessoas mais sensíveis que, já naquela época, preferiam perorar pelos direitos dos manos, em vez de prestar apoio e solidariedade às vítimas. Ninguém quer ser sequestrada(o), estuprada(o), torturada(o) ou assassinada(a), mas quanto pior o sequestrador, estuprador, torturador e assassino, mais próximo de ser canonizado por certa parcela de pessoas... Esse é exatamente o caso desse "São" Jararaca, o "santo" que só pintou miséria!
Reza a lenda que, em seus últimos momentos, o Cangaceiro Jararaca foi perguntado se tinha arrependimento ou remorso de algo que fizera na sua tumultuada vida de crimes, ao que o vagabundo teria feito repugnante relato: que tinha ele por vício, de maldade pura, o costume de jogar crianças novinhas para cima e aparar na ponta do facão... E que, numa dessas execuções hediondas, o neném caiu do céu sorrindo, até ficar encravado no aço. Segundo o criminoso, aquela lembrança era a única coisa que lhe dava desgosto, de tudo de ruim que já aprontara.
Dia de Finados, quem for no túmulo desse covarde verá multidões rezando o terço e a versão inventada de que "ele (o Jararaca) se arrependeu de tudo". Cuidado tenha o visitante para não se queimar nas centenas de velas, ou para não pisar na ruma de ramalhetes de flores depositados pelos fiéis desse estranho culto a um fascínora confesso e empedernido, que morreu sustentando a marra de bandido perigoso até o fim, conforme são unânimes as fontes históricas. Em contraste flagrante, os túmulos dos heróis potiguares que repeliram o Bando de Lampião ficam a poucos metros, totalmente ignorados.
Uma especulação cabível, para quem acredita nessas coisas: talvez, por influência dessas rezas para gente do lado do Mal, Mossoró tenha obtido a duvidosa bênção de receber, recentemente, um Presídio Federal. Afinal de contas, a alma do finado Jararaca, tão querida dos devotos, deve ter convidado outras almas penadas do mesmo naipe que a dele, para lugar tão receptivo (daí mexer os pauzinhos "do outro lado", para deixar o ambiente mais a seu gosto). No pacote do Presídio Federal, veio a cúpula da Facção Criminosa PCC e, na seqüência, essa organização criminosa abriu sua filial potiguar. Como reação, os marginais potiguares fundaram o Sindicato do Crime do RN. Eis o fundamento do milagre da multiplicação das estatísticas criminais! Desde então, as coisas foram tão ladeira abaixo, que não apareceu quem dê jeito, até aqui!
Parece que São Jararaca não protege nem Mossoró, tampouco o Rio Grande do Norte, do crime e da insegurança pública... Quanto mais se reza, mais assombração aparece!
Quem for no Cemitério de São Sebastião, em Mossoró/RN, pode ver um túmulo muito bem cuidado, palco de adoração e idolatria, principalmente no Dia de Finados (02 de novembro). Trata-se da cova de um dos piores criminosos que já puseram os pés em solo potiguar, o cangaceiro Jararaca. Assassino, ladrão, torturador, membro de facção criminosa (no caso, o Bando de Lampião), sequestrador - tudo isso Jararaca era e morreu sendo. De forma absurda, no entanto, hoje é considerado um santo e há quem lhe atribua milagres...
Ao centro da foto, o bandido José Leite de Santana, vulgo Jararaca, quando preso em Mossoró (junho de 1927)
No dia 13 de junho de 1927, Lampião e cerca de uma centena de outros vagabundos de seu bando atacaram a cidade de Mossoró, após percorrer parte do Alto Oeste Potiguar deixando rastro de crimes e violência. Na ocasião, Jararaca tinha 26 anos e era líder de um dos subgrupos que compunham a vassalagem de Virgolino Ferreira. No combate que se seguiu à invasão da cidade, que foi defendida por uma milícia heróica de voluntários civis, Jararaca foi ferido enquanto tentava surrupiar os pertences e dinheiro de um seu companheiro de crimes, o cangaceiro Colchete, morto pouco antes (em combate) com um tiro na cabeça. Com um balaço no peito e outro no pé da bunda, Jararaca foi abandonado pelo resto do bando e, então, capturado pelos defensores de Mossoró.
Prisioneiro, José Leite de Santana, vulgo Jararaca, natural de Buíque/PE e desertor do Exército Brasileiro, deu entrevistas em que entregou importantes coiteiros e detalhes a respeito de Lampião e seu grupo criminoso. Finalmente, foi passado pelas armas pelas autoridades, no tipo de atitude que pôs fim ao Cangaço, por um lado, mas por outro, levantou polêmica dentre as pessoas mais sensíveis que, já naquela época, preferiam perorar pelos direitos dos manos, em vez de prestar apoio e solidariedade às vítimas. Ninguém quer ser sequestrada(o), estuprada(o), torturada(o) ou assassinada(a), mas quanto pior o sequestrador, estuprador, torturador e assassino, mais próximo de ser canonizado por certa parcela de pessoas... Esse é exatamente o caso desse "São" Jararaca, o "santo" que só pintou miséria!
Cidadãos de bem, armados, fizeram o milagre de repelir o Bando de Lampião. Hoje são esquecidos.
Dia de Finados, quem for no túmulo desse covarde verá multidões rezando o terço e a versão inventada de que "ele (o Jararaca) se arrependeu de tudo". Cuidado tenha o visitante para não se queimar nas centenas de velas, ou para não pisar na ruma de ramalhetes de flores depositados pelos fiéis desse estranho culto a um fascínora confesso e empedernido, que morreu sustentando a marra de bandido perigoso até o fim, conforme são unânimes as fontes históricas. Em contraste flagrante, os túmulos dos heróis potiguares que repeliram o Bando de Lampião ficam a poucos metros, totalmente ignorados.
Uma especulação cabível, para quem acredita nessas coisas: talvez, por influência dessas rezas para gente do lado do Mal, Mossoró tenha obtido a duvidosa bênção de receber, recentemente, um Presídio Federal. Afinal de contas, a alma do finado Jararaca, tão querida dos devotos, deve ter convidado outras almas penadas do mesmo naipe que a dele, para lugar tão receptivo (daí mexer os pauzinhos "do outro lado", para deixar o ambiente mais a seu gosto). No pacote do Presídio Federal, veio a cúpula da Facção Criminosa PCC e, na seqüência, essa organização criminosa abriu sua filial potiguar. Como reação, os marginais potiguares fundaram o Sindicato do Crime do RN. Eis o fundamento do milagre da multiplicação das estatísticas criminais! Desde então, as coisas foram tão ladeira abaixo, que não apareceu quem dê jeito, até aqui!
Parece que São Jararaca não protege nem Mossoró, tampouco o Rio Grande do Norte, do crime e da insegurança pública... Quanto mais se reza, mais assombração aparece!
Erick Guerra, O Caçador
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