PMs denunciam “abandono” e doenças afastam centenas deles do trabalho
Cerca de mil policiais militares do Rio Grande do Norte estariam afastados por problemas de saúde e muitos sem condições financeiras de comprar os remédios. Problemas ortopédicos, psiquiátricos, digestivos, cardíacos, diabetes e câncer são os males que mais atingem a tropa já deficitária em seu efetivo e que, assim como os demais servidores públicos estaduais, padece com salários atrasados, que empurraram homens e mulheres que defendem a sociedade para dívidas que só aumentam.
De soldados a coronéis, passando por cabos, sargentos, suboficiais, tenentes, capitães, majores e tenentes-coronéis, policiais militares têm recorrido, com freqüência, a hospitais pedindo socorro. Alguns passam a ser considerados “doidos”, quando, na verdade, são vítimas da falta de assistência por parte da Corporação. “Estamos abandonados”, denunciam alguns.
Relatos feitos ao NOVO Jornalismo por PMs que, temendo represálias, não podem ser identificados, apontam para um quadro muito pior que a falta de viaturas, de armamentos e de pessoal.
Na manhã desta terça-feira (15), durante evento no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, um coronel do Quadro de Oficiais da Saúde teria falado sobre a quantidade de PMs afastados por doenças e feito um alertado a respeito da falta de condições de, pelo menos, tentar recuperar parte desse efetivo que, longe das ruas, prejudica ainda mais o policiamento ostensivo.
Uma das fontes deste informativo disse que os casos de psiquiatria estão em segundo lugar entre os que mais provocam o afastamento de PMs, perdendo apenas para as doenças ortopédicas. “O que a sociedade precisa saber é que muitos desses policiais, que popularmente ficam sendo chamados de doidos até por colegas, levaram um tiro e estão sendo perseguidos ou têm as famílias ameaçadas; outros participaram de operações aonde bandidos morreram e passam a ser perseguidos, terminam perturbados e procuram o Centro Clínico da Polícia Militar, que não oferece boas condições de atendimento. Daí, médicos preferem afastar os policiais do serviço e muitos deles terminam indo morar no interior, onde não são conhecidos pela bandidagem e ficam isolados da família; outros não fazem o tratamento porque não podem comprar os remédios e o Estado não disponibiliza. São homens que estão com salários atrasados, endividados, devendo a bancos, a agiotas, não têm condições de pagar pelos medicamentos que necessitam, não podem mais pagar as escolas dos filhos, outros venderam carros, não estão pagando aluguéis de casas. É uma situação gravíssima que termina despercebida pela maioria dos que não sabem o que se passa por trás dos muros da caserna”, revela.
“Arrumado” salvava a vida de policiais
Na gestão da então governadora Wilma de Faria e do seu colega de partido – o PSB – que governava Pernambuco, Eduardo Campos, existia uma parceria informal, um “arrumado”, como diz outro PM, que salvava a vida de policiais de ambos os Estados.
De acordo com o policial, até “vilas de casas” eram alugadas pelo Governo do RN para preservar PMs ameaçados e havia ainda uma espécie de permuta que funcionava da seguinte forma: quando havia um PM ameaçado ou “tido como doido” no RN, ele era mandado para Pernambuco e lá ficava desempenhando tarefas burocráticas, até que melhorasse ou fosse para a reserva. O mesmo acontecia com relação a Pernambuco, que chegou a enviar policiais para as terras potiguares, sob as mesmas condições. “Mas isso não existe mais. Naquela época, não tinham essas facções, essa ousadia toda da criminalidade e era possível esconder um policial. O problema é que hoje não existe nenhuma assistência. O pouco que existe é insuficiente. O Comando da PM sabe disso e não faz nada, porque se abrir a boca desagrada o Governo. Os últimos anos têm sido massacrantes para a PM e nesse Governo piorou com o atraso nos salários e com essa situação de um monte de colegas doentes e sem assistência” explica outro policial com mais de 15 anos de serviço.
Presidente da Aspra é reformado por motivo de doença
O presidente da Associação das Praças da Polícia Militar (Aspra/RN), Eduardo Canuto de Oliveira, foi reformado há cerca de dois meses, segundo publicação no Diário Oficial do Estado, “por ter sido considerado incapaz definitivamente para o serviço ativo da Polícia Militar, não podendo prover meio para sua subsistência, cuja patologia há relação de causa-efeito com a atividade policial militar, sendo considerado inapto em definitivo para o porte de arma de fogo”. O segundo sargento PM Canuto passou à reserva remunerada como segundo tenente. O DOE não informa a doença que o acometeu.
No dia 4 de setembro passado, Canuto foi designado pelo Governo do Estado como representante da Aspra, para integrar o Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania.
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