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'Malhação do Judas': tradição no Sábado de Aleluia




Qual adolescente de hoje sabe o que é a brincadeira da malhação de Judas? Ela é uma tradição ligada a Semana Santa que, praticamente, sumiu das grandes cidades, mas ainda persiste em muitos  municípios menores. Há alguns anos, hoje seria o dia de confeccionar um boneco, feito de serragem ou estopa, e vestido com calça, blusa, sapatos e demais adereços que lembrassem um homem de verdade. Depois de preparado, ele era amarrado em um poste até a hora fatídica. À meia-noite, era surrado em lembrança à traição de Judas Iscariotes a Jesus de Nazaré.

Antropologicamente, estudiosos atribuem o significado de malhar, ou matar, o Judas a exterminar um representante do mal que existe na sociedade. O bispo de Caruaru, dom Bernardino Marchió, vai além e acredita que, ao malhar o boneco, as pessoas procuram se purificar. “Ele representa o desejo de combater dentro do ser humano o mal e o desrespeito”, disse o religioso. O bispo frisou que a prática não tem relação com a Igreja Católica.

A brincadeira tem origem na fé e religiosidade e remonta à Idade Média. O início da “surra” em Judas está na fundação do cristianismo, como conta o doutor em História e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Biu Vicente. “Temos que verificar que Judas é um personagem da história bíblica. E as religiões que surgiram após o incidente de Judas e sua traição a Jesus, quiseram encontrar uma maneira de culpar alguém pela morte de Jesus”, comentou o professor.

Segundo ele, a prática ganhou força desde que o cristianismo venceu os deuses, que eram seguidos em Ro­ma, e os escritos cristãos puseram sobre os judeus a responsabilidade da morte de Jesus. Paralelamente, entre os judeus, Judas foi escolhido para ser responsabilizado pelos sofrimentos que Jesus passou. “Essa foi um política cultural seguida na Idade Média e na Idade Moderna, mas esse costume de encontrar algo ou alguém para assumir o erro de muitos já existia antes do cristianismo”, justificou Vicente.

Agora na lembrança da maioria, a malhação virou história de pais e avós do Interior. “Meus pais e avós passaram a tradição para mim. Era uma festa. Quem subia no poste e pegava o Judas primeiro ganhava até prêmio”, relembrou o comerciante Cicero Silva, de 68 anos. Já o Agricultor  José Orlando, 60, acredita que o tempo e a tecnologia acabaram com a prática da Semana Santa.

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