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BOMBAÇÃO EM BRASÍLIA: Marcelo Calero diz ter gravado conversa ‘protocolar’ com o presidente Michel Temer


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O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero confirmou em entrevista ao Fantástico ter gravado um diálogo com o presidente da República, Michel Temer, e outros membros do governo, mas não revelou nomes. O diplomata contou ter gravado algumas conversas telefônicas seguindo a orientação de amigos policiais federais, entre as quais a conversa com Temer sobre sua demissão. Calero afirmou ser alvo de uma campanha difamatória e acusou o governo de tentar preservar interesses particulares.
Marcelo Calero negou ter pedido um encontro com o presidente para gravar a audiência “de maneira ardilosa” e disse que a boataria tem como objetivo mudar o foco das atenções. Ele explicou que fez gravações telefônicas por recomendação de amigos da Polícia Federal para se proteger e “ter um mínimo lastro probatório em seu depoimento”.
Entre essas gravações (telefônicas) existe uma gravação do presidente da República, mas absolutamente burocrática. Inclusive fiz questão que essa conversa fosse muito protocolar, que é a conversa da minha demissão”, disse, afirmando ter tido a preocupação de não induzir o presidente “a criar prova contra si”.
Calero se tornou o pivô de uma grave crise política no governo Michel Temer ao entregar o comando da pasta no último dia 18, afirmando ter sido pressionado pelo então ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e pelo próprio presidente da República para que o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) alterasse um parecer que embargou a obra do empreendimento imobiliário La Vue, na Ladeira da Barra, em Salvador, onde Geddel comprou um apartamento.
Em depoimento à Polícia Federal no dia seguinte à sua renúncia, Calero disse que Temer o “enquadrou” para tentar buscar uma saída para o impasse na liberação da construção do arranha-céu localizado em área de patrimônio histórico na capital baiana. Segundo o ex-ministro, o presidente insistiu que o caso fosse encaminhado à Advocacia-Geral da União (AGU) e afirmou que a decisão do Iphan de barrar a construção do prédio havia criado “dificuldades operacionais” em seu gabinete, já que Geddel estava “bastante irritado”.
Na entrevista ao Fantástico ele reiterou as declarações feitas à PF e descreveu suas três conversas com o presidente a respeito do caso. De acordo com Calero, em um primeiro momento, Temer disse que resolveria o caso com Geddel, mas, segundo Calero, mudou de ideia e pediu que ele enviasse o processo à AGU, dizendo que a ministra Grace Mendonça, responsável pelo órgão, resolveria a questão de maneira que ficasse “bom para todos”.
“Em menos de 24 horas, todo aquele respaldo que ele me havia garantido ele me retira e me determina que eu criasse uma manobra, um artifício, uma chicana, para que o caso fosse levado à AGU”, afirmou Calero.
O diplomata se disse chocado por constatar que interesses particulares ainda possam prevalecer dentro do governo. “Ficava patente que altas autoridades da República perdiam seu tempo em favor de um assunto paroquial, que se referia a um interesse particular de um ministro”, disse, após relatar seus diálogos com Padilha.
“Certamente acharam que, para preservar meu cargo de ministro, eu faria qualquer negócio. Jamais faria qualquer negócio para preservar cargo nenhum”, disparou.
Apesar da resistência do presidente, a permanência de Geddel no governo se tornou insustentável depois que o depoimento em que Calero menciona Temer veio a público, assim como rumores sobre a gravação de conversas com o ex-ministro da Secretaria de Governo e com o presidente da República. Geddel apresentou carta de demissão ao governo na última sexta-feira.
‘Quase indigno’
Em entrevista coletiva neste domingo, Michel Temer classificou de “gravíssimo, quase indigno”, um ministro gravar o presidente da República. As denúncias de Calero deram combustível para a oposição se mobilizar pelo impeachment do presidente.
Questionado se havia gravado conversas com Geddel e Padilha, Calero disse que que não poderia revelar os interlocutores das gravações porque isso poderia atrapalhar as investigações.

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